sexta-feira, 27 de junho de 2014

ALAP CELEBRA POESIA DE FÉLIX DE BULHÕES, O PIONEIRO DA LITERATURA GOIANA

POESIA GOIANA
Coordenação de SALOMÃO SOUSA



FÉLIX DE BULHÕES
(1845-1887)

Nasceu na cidade de Goiás (GO). Após longa estadia fora de sua terra natal, retorna a Goiás em julho de 1884, onde desempenhou relevante papel cultural, lutando pela imprensa livre, pela escola gratuita e pelo desenvolvimento do saber, revivendo o "Gabinete Literário". Em 02 de julho de 1879, ainda magistrado no interior goiano, funda, juntamente com o presidente da Província, Aristides Spindola, a Sociedade Emancipadora de Escravos. Estabelecido na capital, erige, em 1885, o Centro Libertador de Goyaz cujo jornal seria "O Libertador". Escreveu diversos poemas sobre os males e a desumanidade da escravidão, evocando ideais de igualdade e de respeito ao próximo, embasados nos ensinamentos cristãos. Destacam-se as poesias: "Os Sexagenários", "Hino Abolicionista" e "Hino Libertador". Tais obras eram publicadas principalmente no "Libertador" e no jornal "Goyaz". Em 1901, sua mãe Antônia Emília Rodrigues Jardim, reuniu suas poesias e publicou, através da Tipografia do jornal Goyaz, a obra "Poesias do Desembargador Félix de Bulhões". Morreu em 29 de março de 1887, de cirrose hepática.


Parei! — chegado havia ao cimo da montanha
         Aspérrima e tamanha —
         O sol morria além!
Parei; sentei-me à beira do caminho,
         Sentei-me ali sozinho,
         Eu só, sem mais ninguém.

Olhei atrás e avante. — Os largos horizontes
         Debruçam-se nos montes.
         E longes, por além,
De branco e azul e fogo e púrpura toucados,
         Diziam contristados:
         “Tu só sem mais ninguém”.

Percorro o estádio feito em um só lance d’olhos
         Sem contar os abrolhos,
         E muito, muito além,
Nas veigas serpentes o trilho venturoso
         Que eu correra ditoso,
         E só, sem mais ninguém.

Atrás deixava o prado, a vida, a flor, o aroma,
         E o doce amor que assoma
         Na juventude. Além,
Além a névoa densa, a dúvida insegura,
         Além a bruma escura,
         Eu só, sem mais ninguém.

Avante a escarpa está de crua descambada,
         Precípite e eriçada,
         Um passo mais além,
Eu vou com passo firme e resoluto e certo
         Para o eterno deserto,
         Eu só, sem mais ninguém.


O GOIANO DA GEMA

O goiano da gema, o da cidade,
é sempre ou quase sempre um bom sujeito,
para o trabalho sério — pouco jeito;
para a intriga — bastante habilidade.

Se não tem que fazer, por caridade,
tosa na vida alheia sem respeito;
e acredita estar muito em seu direito
apoquentar assim a humanidade.

Se vai dar-te uma prosa, por brinquedo,
arruma-te um cacete, que te pisa,
qual se fora de ferro ou de rochedo,

e, cousa que aborrece e encoleriza,
visita a gente de manhã bem cedo,
quando se está em fralda de camisa.



HINO LIBERTADOR

(Musicado por José Marques Tocantins e cantado pela primeira vez em 1º de janeiro de 1885 no teatro São Joaquim, por ocasião da instalação do Centro Libertador Goiano).


Já desponta no horizonte
A aurora da redenção
Lava, escravo, dessa fronte
O selo da escravidão.
Sim, ergue a fronte no ares,
Ressoa um hino festivo,
Filhos de Adão, somos pares,
Rompe-se o ferro cativo,
Lava, escravo, essa fronte
O selo da escravidão;
Já desponta no horizonte
A aurora da redenção.
O anjo da liberdade
Inunda o espaço de luz
E dos livres na igualdade
Seu brado imenso traduz.

Exulta, ó Cristo, tua glória
Amor e fraternidade,
Afinal se faz na história
Da frágil humanidade.
Sim, dos livres a igualdade
Seu grito imenso traduz
E o anjo da liberdade
Inunda o espaço de luz.

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